
Confesso envergonhada que não sei praticamente nada sobre a história do Japão. Apenas noções comuns à todos de período feudal, samurais, ninjas... e da história recente, as bombas nucleares que arrasaram as cidades de Hiroshima e Nagasaki na Segunda Guerra Mundial.Todo o Japão sofreu neste período negro da História Mundial mas Okinawa, junto com Iwo Jima (como brilhantemente mostrou Clint Eastwood), foram um dos primeiros escudos que separavam os americanos do Japão.
Antes vou contar sobre o passeio que fizemos ao penhasco Hedo bem ao norte na pontinha da ilha. O Luiz viu num panfleto turístico sobre um lugar com formações rochosas bem pitorescas e ficou interessado em conhecer.
Acordamos bem cedinho pois a viagem seria longa. Colocamos o telefone do lugar no navegador e lá fomos nós. O caminho que percorremos vai beirando o mar e é de uma beleza incrível.


Para nossa surpresa a viagem aconteceu sem nenhum engarrafamento, éramos praticamente os únicos indo naquela direção!
O navegador ajuda muito mas não nos deixa até a porta do lugar onde queremos. As instruções acabaram bem numa bifurcação. Para a esquerda, o penhasco e para a direita, as tais pedras estranhas.
Falei para o Luiz para entrar à esquerda porque gostaria de ver esse tal penhasco, apesar de morrer de medo de altura! rsss

O lugar estava quase deserto. Um micro ônibus já estava deixando o estacionamento e mais uns 3 carros estavam estacionados. Isso é uma coisa bem rara mesmo em Okinawa, qualquer ponto turístico ferve de gente.
Ok, descemos e apenas uma pequena lanchonete vendia sorvetes e petiscos rápidos. Um prédio que outrora foi um restaurante estava abandonado. Aliás, tudo ali estava decadente. Até o tempo não estava ajudando naquela manhã. Muito nublado e volta e meia uma chuvinha bem fina caia. Ventava muuuuuito ali e confesso que não cheguei muito perto do penhasco com medo de ser jogada.

A vista era muito bonita mas ao mesmo tempo aterrorizante. Não sabia o por quê mas aquele lugar me deixava para baixo, triste. Achei que era pelo tempo feio...
Em poucos minutos fomos embora de lá e rumamos para o parque das pedras. Lá também apenas alguns gatos pingados esperavam um ônibus nos levar até o local. O caminho era bem rudimentar, chacolejamos bastante enquanto o ônibus levantava poeira. Que lugar vamos parar, pensei!

Confesso que não achei lá grandes coisas. São formações de milhares e milhares de anos atrás, uma ou outra com formas mais interessantes, mas só. Havia algumas trilhas para seguir e conhecer o lugar. Umas mais curtas outras mais longas. Escolhemos uma intermediária que percorria mata adentro. De novo aquela sensação ruim. Não me desgrudei do Luiz. Estávamos saindo da trilha quando a alça da minha bolsa enganchou no corrimão e fui puxada com força. De novo aquela sensação. Vocês podem me chamar de maluca, mas senti que algo não queria que eu fosse embora. Eu sei, coisa de doido mesmo! Que arrepio, viu! Já o Luiz ficou bem entusiasmado com o passeio, tirando muitas fotos e entrando em todas as trilhas secundárias.
No dia seguinte, acabamos ficando de bobeira andando de carro. A praia que escolhemos passear não estava permitindo banhos e nem que as pessoas ficassem na areia. Estava com alerta de tsunami devido ao forte terremoto do Peru. Além disso, um tufão estava se deslocando por ali perto deixando o mar mais agitado.
Resolvemos voltar ao Parque da Paz que abriga um museu com dados sobre a Segunda Guerra e que não tivemos oportunidade de conhecer nas outras visitas que fizemos à ilha. No parque estão os nomes de todos os japoneses e americanos que perderam a vida ali durante as batalhas.

Um grupo de chineses estava em frente a um pequeno altar com flores depositadas no chão. O guia explicava alguma coisa e depois de algum tempo, fizeram um minuto de silêncio. Achei muito digno deles, pois os chineses sofreram muito com o avanço
imperialista japonês.

Percorremos as alamedas com as paredes cobertas de nomes e mais nomes e fomos para o museu. Muitas fotos, manuscritos, capacetes e armas, uma imitação de caverna mostrando como os soldados japoneses e civis se escondiam, o barulho de bombas... realmente deprimente.
Havia também livros com depoimentos de sobreviventes. Li apenas a primeira página e não aguentei mais. A mãe que preparava mamadeira com a água que caia do teto da caverna. A mulher que conta de uma mãe com seu bebê que não parava de chorar na caverna. Um soldado manda que ela aquiete o bebê pois poderia chamar a atenção dos americanos. A mãe tenta acalmá-lo mas ele não pára de chorar. Ela então, sai da caverna por alguns minutos e volta sozinha, sem o bebê. Ninguém pergunta do bebê nem o que aconteceu...
Em seguida, chegamos numa sala onde passava um documentário contando sobre a chegada dos americanos em Okinawa. Explicava que o exército americano chegou pela costa leste da ilha e foi empurrando os japoneses para o sul e para o norte, encurralando-os. Muitos japoneses sem ter mais para onde fugir, acabaram se suicidando pulando do penhasco Hedo! Nossa, tive um estalo naquele momento e foi então que entendi todo aquele mal estar naquele lugar. Quantas vidas se perderam naqueles rochedos... quanta tristeza e desespero acumuladas... quantos gritos os ventos carregaram...
Saí de lá muito para baixo e me perguntando o por quê das guerras. Por que ainda em pleno século 21 ainda existe tanta falta de tolerância, tanto ódio, uma violência que nem o mais selvagem dos animais seria capaz de fazer!
Meninas, sei que não foi um post alegre mas prometo que o próximo será bem mais para cima! ;-)
A rosa de HiroshimaPensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
Poema de Vinícius de Morais in Antologia poética in Poesia completa e prosa: "Nossa senhora de Los Angeles" in Poesia completa e prosa: "Cancioneiro".